Newsletter
NEWSLETTER #1
MARÇO 2022
Em 2018 o projeto Um Mergulho na História, cujo desenvolvimento está a cargo da DGPC, recebeu a confiança dos cidadãos portugueses que, na região do Alentejo, votaram nesta ideia no âmbito do programa do Orçamento Participativo do Estado Português.
Estamos agora ligados a si através de um novo canal digital de comunicação: a newsletter Um Mergulho na História. À distância de um clique, poderá acompanhar mais de perto os trabalhos de investigação em curso, com o objetivo de identificar, localizar ou relocalizar o património cultural náutico e subaquático existente no litoral alentejano.
A newsletter #1 está disponível a partir de hoje, com novidades sobre as campanhas exploratórias que decorreram no ano de 2021, a apresentação oficial do projeto e o workshop internacional que reunirá especialistas de renome na área da Arqueologia Fluvial.
Este workshop terá lugar na cidade de Alcácer do Sal, de 8 a 10 de abril.
E a propósito: já se inscreveu no workshop? Pode fazê-lo aqui.
Antiga aldeia de pescadores do século XIX localizada em duna da Malha da Costa
O sítio da Malha da Costa está localizado na Península de Troia. Encontra-se a seis quilómetros da Comporta, a nove quilómetros da ponta da Península e a escassos 600 metros do Rio Sado.
Nos inícios de 2019, no âmbito do projeto "Um Mergulho na História", foi efetuada uma visita ao local com o objetivo de localizar os vestígios de um naufrágio ali identificado em 2006. O local foi identificado como uma zona de cerca de 20 metros de comprimento numa duna junto à praia, na qual foram achados diversos materiais arqueológicos, tais como cerâmicas de distintas origens, vidros e metais.
Na altura foi recuperado um fragmento de uma chávena estampada com o logotipo da Empresa Nacional de Navegação, fundada em 1881 e extinta em 1918. A localização do sítio arqueológico, a presença do enorme número de garrafas em grés e este fragmento, levaram a que os arqueólogos sugerissem que se tratasse dos vestígios de um naufrágio de finais do século XIX ou inícios do século XX, talvez propriedade da Empresa Nacional de Navegação.
No entanto, a enorme quantidade de materiais arqueológicos à superfície começou a sugerir outra realidade deposicional que não um destroço náutico. Verificou-se que a extensão do sítio arqueológico era bem maior do que o inicialmente apurado, ocupando uma área que terá sensivelmente 300 metros de comprimento por 80 metros de largura, num pequeno planalto que se sobreleva relativamente à praia, já na duna secundária. A equipa do "Um Mergulho na História", em conjunto com alunos da Faculdade de Ciências Humanas - Universidade NOVA de Lisboa, realizou uma intervenção arqueológica com a duração de três semanas.
O número de fragmentos de cerâmicas funcionais e as marcas de uso que estas apresentavam sugeriam um contexto doméstico assíduo e a dispersão no terreno dava ideia de uma zona habitacional de grandes dimensões. Uma primeira análise aos materiais encontrados à superfície permitiu concluir que este local tinha sido ocupado sensivelmente entre 1850 e 1920, não tendo sido identificado nenhum objeto que remetesse para uma cronologia mais antiga ou mais recente. Durante a intervenção arqueológica, a descoberta de um numisma cunhado em 1853 de XX Reis, parece confirmar uma cronologia da segunda metade do século XIX.
A análise documental e cartográfica revelou que naquele local existiu uma aldeia de pescadores, surgindo representada em diversos mapas. Em 1852, uma representação da zona do porto de Setúbal by M.C.A.V. Dumoulin, legendada em inglês, menciona na zona Fishermen´s Huts onde são representadas apenas três casas. O Plano Hidrográfico do Porto de Setúbal (1884) assinala na zona quinze casas que denomina como "Barracas da Costa". Três anos depois (1887), a representação "o Plano Hydrographico da Enseada e Porto de Setúbal" volta a assinalar as "barracas da costa", agora já não com a representação individual de casas, mas assinaladas com uma mancha. Através destes mapas, e associados à cultura material, ficamos com a ideia que a aldeia ali se instalou em meados do século XIX, tendo crescido exponencialmente em cerca de três décadas e sendo abandonada em inícios do século XX.
Este tipo de referências documentais, mencionando barracas, associadas a documentação fotográfica da zona de inícios do século XX, e a levantamentos etnográficos, levaram a concluir que este aglomerado de barracas corresponde à tipologia das ditas cabanas da Comporta e da Carrasqueira, construídas com colmo e estruturadas em madeira.
1. Sondagem no sítio arqueológico da Malha da Costa. 2. Fotografia aérea da escavação do sítio arqueológico da Malha da Costa. 3. Reconstituição 3D do sítio arqueológico Malha da Costa.
Campanha de prospeção das margens do rio Sado em Alcácer do Sal
Entre 5 e 17 de setembro de 2021, no âmbito do projeto "Um Mergulho na História", coordenado pela Direção Geral do Património Cultural (DGPC) e financiado pelo Orçamento Participativo de Portugal 2018, foi desenvolvida uma campanha de prospeção arqueológica no rio Sado.
A equipa de arqueólogos e estudantes de arqueologia, oriundos de diversas instituições, entre as quais a DGPC, a Universidade Nova de Lisboa, a Universidade de Évora, entre outras, prospetou as margens do Sado, na considerada área de interface fluvial. Durante os 10 dias úteis de campanha, foram percorridas as margens do rio, junto a Alcácer do Sal. Os trabalhos tiveram como objetivo a caracterização arqueológica da zona, através da relocalização e reavaliação dos sítios arqueológicos já conhecidos, nomeadamente os fornos romanos para produção de ânforas do Baixo Sado, entre os quais o do Bugio por exemplo, e também a identificação de novos sítios arqueológicos.
A importância da ocupação romana do estuário do Sado promoveu a colaboração com o projecto de doutoramento "Sado Romano", financiado pela FCT (SFRH/BD/145422/2019), parceiro nos trabalhos de campo desenvolvidos.
A campanha resultou na identificação e caracterização de cerca de uma dezena de sítios arqueológicos, com cronologias entre o período romano e o século XX. No âmbito da identificação de novos sítios, destaca-se o registo de casais agrícolas, por norma pouco considerados por serem de cronologias mais recentes. Os dados recolhidos permitirão o desenvolvimento de estudos sobre as dinâmicas de ocupação do território ao longo dos diferentes períodos históricos, assim como caracterizar as comunidades ribeirinhas do Sado.
No decurso da campanha foi, também, realizada pesquisa no Arquivo Histórico Municipal de Alcácer do Sal e passeios fluviais com pescadores locais, detentores dos "segredos" subaquáticos do Sado, com o objetivo de preparar a futura prospeção geofísica subaquática no rio.
1. Análise da composição da pasta de fragmento cerâmico durante a campanha de campo em Alcácer do Sal. 2. Operação de reconhecimento com o pescador Joaquim Guerra no rio Sado. 3. Fotografia aérea dos campos de arroz e do Rio Sado em Alcácer do Sal. 4. Análise visual de fragmentos cerâmicos durante a campanha de prospeção das margens do rio Sado.
Campanha de prospeção do rio Sado na zona de Tróia em parceria com o projeto Sado Romano
O Projeto Sado Romano parte da investigação de doutoramento de Ana Patrícia Magalhães com o tema "O COMPLEXO PORTUÁRIO ROMANO DO BAIXO VALE DO SADO. A Valorização de um Património Cultural Partilhado", e é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (SFRH/BD/145422/2019). A sinergia entre este projeto e o "Um Mergulho na História", permite unir diferentes investigadores e qualificações para cobrir o rio e a costa, em que nos dispomos a ajudar na identificação e interpretação da ocupação do período romano em torno do Baixo Vale do Sado e recebemos ajuda técnica para os levantamentos fotogramétricos dos sítios arqueológicos em estudo.
A parceria criada enquadra-se no encontro de estratégias de cooperação à luz do 17º objetivo da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. Esta colaboração vem assim apoiar a investigação de doutoramento em curso e, ao mesmo tempo, aumentar o conhecimento gerado, as formas e meios de disseminação para a valorização e preservação do património arqueológico, que é o nosso derradeiro objetivo.
1. Fotografia aérea de tanques de salga no sítio arqueológico das Ruínas Romanas de Troia. 2. Fotografia aérea de tanque de salga e de poço (círculo de pedras à esquerda) no sítio arqueológico das Ruínas Romanas de Troia. 3. Fotografia aérea da Península de Troia com vista para a foz do rio Sado e para a Serra da Arrábida.
Agenda "Um Mergulho na História"
A Direção Geral do Património Cultural e o Presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal têm o prazer de o convidar a assistir à Apresentação Oficial do projeto UM MERGULHO NA HISTÓRIA que terá lugar no dia 8 de abril de 2022, pelas 10:00 horas, no Auditório Municipal em Alcácer do Sal.
O projeto Um Mergulho na História pretende identificar, localizar ou relocalizar o património cultural náutico e subaquático existente no litoral alentejano, abrangendo as paisagens marítimas, fluviais e de interface adjacentes ou situadas nos concelhos de Alcácer do Sal, Grândola e Sines.
As tarefas a desenvolver no âmbito do projeto Um Mergulho na História foram financiadas pelo Orçamento Participativo Portugal (Projeto OPP nº 466/2018).
Ficha técnica
O conteúdo desta newsletter contou com as contribuições de:
Câmara Municipal de Alcácer do Sal - Design gráfico Workshop
Edição
Susana Medina e Maria João Santos