O comandante de submarino alemão que mais tonelagem portuguesa afundou (1918).

25-08-2018

Lançado à água em 1913, ainda antes do início da Grande Guerra, o U22 media cerca de 64 metros de comprimento e, navegando à superfície, tinha um raio de acção de um pouco mais de 14.000 quilómetros.

No dia 4 de Agosto de 1918 deixou a sua base em Kiel, na costa alemã do Mar Báltico, para uma patrulha no Atlântico, missão essa que começou por o trazer a Lisboa no dia 21 do mesmo mês.

A primeira presa do U22 nesta patrulha ainda não foi um navio português mas sim o veleiro italiano Buoni Amici, afundado no dia 19 já em águas nacionais, ao largo de Viana do Castelo.

Mas foi no dia seguinte, algumas milhas ao largo da Nazaré, que afundou o primeiro navio de bandeira portuguesa. Tratou-se do arrastão Magalhães Lima. A tripulação foi obrigada a abandonar o navio e foram colocadas cargas explosivas nos porões.

O U22 deslocou-se depois para sul, navegando junto à costa portuguesa, e ao final da tarde de dia 21 tentou aproximar-se da foz do rio Tejo, mas foi avistado pelo patrulha-de-alto-mar Augusto de Castilho perto do cabo Raso, a oeste de Cascais. O Augusto de Castilho, nessa data comandado pelo 1º Tenente Oliveira Pinto, abriu fogo, o que obrigou o U22 a submergir e a afastar-se para norte.

No dia 22, mais uma vez navegando à superfície, interceptou e afundou a escuna Maria Luiza ao norte do cabo da Roca. A Maria Luiza, de apenas 150 toneladas, tinha sido construída em Aveiro e pertencia à Parceria Marítima Ilhavense. Transportava mercadoria diversa do Porto para Lisboa.

Após o afundamento da escuna, o U22 submergiu e navegou a menos de duas milhas da costa, até se aproximar novamente do cabo da Roca. Fez então uma nova tentativa de entrada no porto de Lisboa, desta vez durante a noite. No entanto, um vasto número de pequenas embarcações de pesca que se encontravam a sul de Cascais, e um forte luar numa noite sem nuvens, dificultaram a passagem do submarino, que acabou por ser detectado por um holofote colocado perto do farol de Santa Marta, em Cascais.

Hinrich Hashagen desiste por ora de entrar no porto de Lisboa e navega para sul, em direcção ao mar da ilha da Madeira, onde não encontrou qualquer presa. 

É no regresso para norte, contornando junto à costa de Marrocos, que no dia 31 de Agosto se cruza com o arrastão Norte, da praça de Lisboa. Tal como o Magalhães Lima e o Maria Luiza, também o Norte é afundado com cargas explosivas colocadas a bordo pelos marinheiros alemães, depois de a tripulação se retirar nos escaleres salva-vidas.

No dia seguinte, 1 de Setembro, é a vez do arrastão Libertador, também da praça de Lisboa, que é detido e afundado a Oeste de Gibraltar.
É o quinto navio que Hashagen afunda desde que saiu de Kiel no dia 4 de Agosto e o quarto navio de pavilhão português.

Mas Hinrich Hashagen não desistiu de tentar a sua sorte no mais importante porto nacional: Lisboa. Navegando já de regresso a Kiel, chega novamente à foz do Tejo na madrugada de dia 3 de Setembro de 1918. 

Assinala a sua posição cerca de 6 milhas náuticas a norte do cabo Espichel e decide aguardar submerso um pouco ao sul do Bugio, num fundo de apenas 24 metros de profundidade, onde as marés e as correntes do Tejo não param de sacudir o casco do U22

Hashagen regista o desconforto que foi ser constantemente sacudido durante as horas que esperou até o dia nascer. Farto de esperar mais, tenta a audaciosa façanha de entrar submerso no porto de Lisboa, navegando apenas com a ajuda do periscópio. No entanto, o estado do mar, extremamente agitado e com vaga larga, impede-o de manter a profundidade, arriscando a todo o momento ser visto por qualquer embarcação.

Será por essa altura, quando já desistia de entrar no porto de Lisboa, que avista o rebocador Villa Franca. O Villa Franca navegava desde o Porto com destino a Setúbal, rebocando o casco de uma fragata portuguesa, baptizada Lloyd, como batelão.

O U22 emerge totalmente e ataca o rebocador a tiro de canhão.

Sob o fogo da peça do submarino, o mestre Joaquim Bárbara e a restante tripulação reunem-se à popa e em poucos minutos abandonam numa baleeira o Villa Franca

Com o U22 agora a uns escassos metros do casco do Villa Franca, os naúfragos afastam-se a remos enquanto Hinrich Hashagen volta agora a sua atenção para a fragata rebocada.

O ataque é notado pelos caça-minas Azevedo Gomes e Baptista de Andrade que se apressam a intervir.

O U22 retira, conseguindo ainda danificar a tiro de peça o lugre Prateado, que é rebocado para o porto e salvo.

Ainda no mesmo dia, desta feita a sul das Berlengas, o U22 ataca e afunda a chalupa portuguesa Santa Maria. A baleeira com a tripulação vira-se no mar revolto e Hashagen salva os náufragos recolhendo-os no U22 e entregando-os mais tarde perto de Peniche a outro navio de pesca.

No dia 5 de Setembro pela tarde, ao navegar à superficíe junto à Costa Nova, Aveiro, o U22 faz mais uma vez fogo de artilharia sobre o vapor Desertas, que se encontra aí encalhado desde 1916. 

Quando percebe que o navio está encalhado faz alto ao fogo e submerge, já perseguido por uma aeronave francesa da Base de São Jacinto que, afirmando avistar uma mancha de óleo, reporta o submarino como atingido pelas suas bombas e afundado.

Mas na verdade o U22 não sofreu qualquer dano e atracou dia 20 de Setembro na sua base em Kiel.

O Oberleutnant zur See Hinrich Hermann Hashagen foi o comandante alemão de submarinos que maior quantidade de navios portugueses afundou, apesar da modesta tonelagem contabilizada no final.